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Com Sabor de Pitangas...

 

 

Rosani Abou Adal

 

Chão de Pitangas, de Débora Novaes de Castro, Scortecci Editora, lançado em dezembro de 2002, apresenta haicais modernos, orientais e guilherminianos elaborados com precisão técnica e uma linguagem rica em imagens poéticas. Os estilos das escolas ocidental e oriental são eternizados no seu chão de pitangas. A capa, uma aquarela da autora, vivifica a preciosidade do instante haicaístico nos tons da primavera.

Débora Novaes de Castro na apresentação da obra afirma que o haicai é a preciosidade de "um instante especial" eternizado em três versos. Ela alcança essa "preciosidade" no seu universo haicaístico e consegue em apenas três versos trazer à tona a plasticidade da sua alma poética.

São 270 haicais apresentados em três partes distintas: haicais modernos ou livres, haicais guilherminianos ou guilherminos e os haicais orientais. A obra apresenta uma introdução da autora sobre o Haicai no modernismo  brasileiro com informações importantes aos estudiosos da Literatura Brasileira. Acompanha dois textos publicados em Haikais ao Sol, antologia publicada por Débora Novaes de Castro em 1985, de Cyro Armando Catta Preta - O haicai Guilherminiano,  e de Teruko Oda - Haicai - A Poesia do Kigo - textos que vêm acrescentar informações sobre o tema em questão.

Débora Novaes de Castro está fazendo mestrado em Comunicação e Semiótica, Intersemiose na Literatura e nas Artes na Pontifícia Universidade Católica PUC - SP, sob a vice-coordenação do Prof. José Amálio de Branco Pinheiro. O tema do seu mestrado não poderia ser outro: o haicai. A autora de Chão de Pitangas é uma doutora na arte de fazer haicais e não preciso nenhum aval para designá-la como tal porque além de dominar a técnica, a poesia corre em sua verve. O sangue haicaístico habita suas veias desde Soprar das Areias, poemas hai-kais, publicado em 1987. Depois se sucederam Aljôfares, 1989, e Sementes, em 1992. Ambos lapidados pela "preciosidade" eternizada em três versos.

Os 270 haicais que integram a obra são pérolas das mais raras encontradas em seu universo haicaístico.

Li e reli as preciosidades haicaísticas de Débora Novaes de Castro como se estivesse a degustar as deliciosas frutinhas vermelhas à beira de um rio. O ritmo  dos seus haicais são tão sutis quanto a correnteza calma das águas que vai levando em seu leito uma pétala de flor.

Uma pitanga com gosto de modernismo aguça a vontade de comer mais uma.

 

Salgueiros

debulham no rio

males de amores

 

O haicai guilherminiano pede bis, aprecio mais uma frutinha vermelha.

 

Pousa na messe

alado o corpo delgado

cigarra enternece

 

Enfim, o haicai oriental e não parar de comer as pitangas.

 

No campo queimado

indecisa a ave ensaia

canto magoado.

 

Chão de Pitangas, de Débora Novaes de Castro, Scortecci Editora, 2002, São Paulo, SP, R$ 28,00, Tel.: 5031-5463, www.agencialiteraria.com.br

 

Rosani Abou Adal

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