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FERTILIDADE

 

 

 Rosani Abou Adal

 

 

Caminho entre acácias, papiros,

ébanos orientais, ciprestes e alfarrobeiras.

Admiro a beleza dos falcões, águias,

cotovias e poupas.

Percorro o leito do Nilo

montada em meu camelo alado

em busca de fertilidade,

não é época das cheias.

minha taça está vazia,

preciso receber para dar,

sem trocas não semeio tâmaras.

Voamos até às pirâmides de Gizeh.

Nos túmulos de Queóps, Quéfren e Miquerinos

não encontramos a taça para me conceber.

Ela está distante das belezas de Imhotep.

Procuro o objeto de ouro

nas ruínas de Mênfis, no Colosso de Mêmnon

e continuo de mãos abanando

sem dividir, multiplicar, subtrair e somar.

Monto novamente no animal beduíno,

minha taça ferve com o sol quente do deserto.

Tenho miragens, tenho sede

e não tenho água para beber.

Mato minha sede no oásis.

Estou perto de fragilidade

e não alcanço a fertilidade.

sou uma escrava carregando pedras,

construindo tumbas e túmulos.

Estou delirando com a miragem.

Parto com meu corcunda para

a terra dos cedros, pinheiros e carvalhos

com destino à bacia do Eufrates.

Eu e meu camelo alado,

cansados e frágeis de procurar,

avistamos-te nos Montes Líbanos.

Estavas a me esperar

segurando firme nas mãos

a taça transbordando fertilidade.

Colhemos frutos e semeamos tâmaras.

 

 

Planeta Terra

 

 

Rosani Abou Adal

 

Tuas florestas transformam-se

em deserto de cinzas.

Tuas águas, em cloreto e iodo.

Espécies marinhas, pássaros,

a vida em extinção.

Homens morrendo incuráveis.

Rios e lagos solitários,

legendas do passado.

Teu pulmão poluído.

A camada de ozônio

um sopro em espiral.

O que podemos fazer por ti

se tuas crianças estão

morrendo de fome?

 

Imagens

 

 

Rosani Abou Adal

Meus pensamentos voam até o pico,

alcançam a mais alta altitude.

Alguns metros abaixo

voltam a respirar, sorrir,

pensar e sonhar.

Sonham com um céu lilás,

observam estrelas cadentes,

Eles não têm medo de nada,

respiram fundo e descem ao abrigo.

O guarda da guarita tem medo

de atravessar as fronteiras da imaginação.

Meus pensamentos voam, descem o morro,

avistam cachoeiras, mares, lagos,

um casebre atrás das árvores,

homens se amando na grama,

borboletas pousam nas pétalas,

crianças sorrindo e brincando,

um bando de passarinhos cantando.

Meus pensamentos voam até a base

e voltam à plenitude.

Perdida no Universo

 

Rosani Abou Adal

Há momentos em que me sinto

tão forte quanto as montanhas do Tibet.

Beijo teus lábios, sinto infinita paz.

Existem instantes em que sou

tão grande quanto a força divina.

Toco tua intimidade, voo céus, percorro oceanos,

atravesso horizontes e alcanço tua base aveludada,

sou tão forte como os deuses do Olimpo.

Existem dias em que me sinto

tão pequena como um átomo perdido na galáxia,

teus lábios estão distantes dos meus,

não sinto o gosto de tua boca,

não escuto tua voz de acalanto,

não te toco corpo nem alma,

não sinto teu cheiro no meu corpo,

tuas mãos não me afagam,

perdida no universo

sou o núcleo de um átomo.

 

 

Lembranças

 

 

Rosani Abou Adal

 

 

Lembro-me da Riviera Francesa,

das ruas do Boulevar,

dos bares, dos cafés,

das ruas e alamedas

por onde passamos.

Lembro-me de todos os lugares

onde estivemos,

dos momentos em que sorrimos,

das palavras que soletramos,

dos teus olhos me fitando,

das tuas mãos me afagando

com cheiro de licor de café.

Lembro-me dos teus cabelos

repousando no meu ombro,

da tua pele que me hidratava,

do teu suor com gosto

de morangos silvestres.

Lembro-me do teu beijo calado

com vontade de quero mais.

Lembro-me de ti

sentado no banco do jardim,

despindo-me com teu olhar.

 

Acalanto

 

 

(para meu pai)

Rosani Abou Adal

 

 

Perdi minha jóia do Eufrates

Meu tesouro sem ouro

A pedra mais preciosa

não habita as relíquias

Não sinto o seu calor

não posso tocá-la

não tenho olhos pra vê-la

Meu deserto está frio

O sol encoberto

A lua a minguar

O inverno presente

nas quatro estações

Durante séculos procurei

minha jóia do Eufrates

e agora a perdi

Para meu acalanto

irei encontrá-la

noutra dimensão

 

 

 

Imagens Miquerinas

           

 

Rosani Abou Adal

 

 

Gosto de café amargo na boca,

licor de avelã entre os lábios.

Um trago se dispersa no ar,

as lembranças despidas

nas semibreves do imaginário.

Segredos tecem imagens poéticas

nas transparências selvagens,

o orvalho adormece entre as folhas.

O êxtase interrompido

numa fração de segundo,

o silêncio numa oitava abaixo,

repartindo a solidão do orgasmo.

A alvorada cálida se rompe

no cateto oposto da hipotenusa.

As Cleópatras embriagam

os diamantes ocultos do prazer.

O cheiro do passado no ar,

a vontade de ser o que não foi.

Reminiscências anônimas traduzem

os desejos invisíveis da aurora.

Sem vestes se entrega ao convexo,

brinca de faz de conta

com as pitangas matinais

e descobre as catedrais do amanhã.

Imagens miquerinas invadem

a aridez das florestas,

desvendam as miragens do ventre

e acordam o povo do deserto.

As ilusões saciam a fome da alma,

revelam os segredos matinais

e Narciso desperta para a vida.

 

 

Futuro Néon

 

 

Rosani Abou Adal

 

 

Flores brotam no coração da Sé,

a Catedral sorri em uníssono.

O chafariz ilumina e acolhe

os homens sem teto e sem fruto.

Os sonhos refazem a vida que colhe

esperanças no altar mor das ilusões.

O Evangelho é proclamado

pelos fiéis no banco da praça.

Menores fumam craque e cheiram cola

em busca de um futuro néon.

As calçadas de plástico clamam em nome da paz.

Eremitas vendem sonhos nas ruas.

A Catedral da Sé, um poliedro de esperanças.

Os pratos vazios amanhecem no ventre

da cidade desvairada

e, nas escadarias, Mário de Andrade

canta Salmos e bebe Kyries.

Fome - grita alguém do outro lado.

Sede - exclama o comedor de fogo.

Milhões de pessoas a naufragar

no silêncio da melodia muda.

Ninguém escuta os filhos da mesma aurora.

Pausa - a cidade ensurdece e emudece.

A fome e a sede, as cores vivas do País.

Torturador Invisível

Rosani Abou Adal

 

A tortura é infinita.

Nada sobre a mesa,

frutas apodrecem

diante da solidão lacônica.

Homens a pastar a ermo

nas pontes da cidade.

Nenhum lilás no céu,

nada para matar a fome,

nada para saciar a sede.

Homem sem agasalho,

o frio entre os dentes.

O limite da vida,

um estupro que cala.

Voz rouca e muda

implora um prato de comida.

O seu torturador está ali,

na cama de jornal,

sobre os caixotes,

sem pratos e talheres.

Ele é invisível diante

dos olhos dos homens.

É inerte, mas não é inodor.

Tem um cheiro forte

e está presente em todos os cantos,

em todas as direções,

de Leste a Oeste, de Norte a Sul.

Não há janelas para abrir,

a ditadura corrói o corpo e a alma.

O túnel não tem luz,

as ruas são tão negras

quanto as cores da sua barriga.

O horizonte, um futuro sem vestes.

Poucas migalhas entre os dedos,

a força para lutar contra o fantasma.

A cidade está deserta,

ninguém para acolher

o animal sem pasto.

São Paulo sonha tranquila,

o torturado tem pesadelos.

Em farelos sacia a fome.

Sem quimeras, fecha os olhos

e adormece.

FERTILITÉ 

 

 

Version française: Genésio Cândido Pereira Filho

 

 

Je marche  parmi  des  acacias,  papyrus,

ébènes orientales, cyprès et  caroubiers.

J ´admire la beauté des  faucons, aigles,

alouettes et  huppes.

Je  parcours  le lit du Nil

montée sur mon  chameau  ailé

à la recherche de  fertilité,

il n ést  pas époque des inondations,

ma coupe est  vide ,

j ´ai  besoin  de recevoir pour  donner,

sans échanges je ne  sème   pas des  dattes.

Nous volons jusqu´ à les  pyramides  de Gizèh.

Dans les tombeaux  de Quéops, Quéfren et Miquerinos

on ne trouve pas   la  coupe pour  me concevoir.

Elle est loin  des beautés  de Imhotep.

Je cherche  l´objet  d ´or

dans les  ruines  de Mênfis, dans le  Colosse de Memnon

et   je continue  avec  les mains  branlantes

sans  diviser,   multiplier, soustraire et  sommer.

Je monte  de nouveau sur  l ´animal  bédouine,

ma coupe  bout  avec  le soleil chaud du désert

J ´ai de  mirages,  j´ ái   soife

et je  n ´ai    pas  de l ´eau  pour boire.

Je tue  ma soif  dans l ´oasis.  

Je suis prochaine de fragilité

et    je n ´atteindre la fertilité.

je suis une  esclave  en chargeand   de pierres,

en construiand    des tumulus  et des  tombeaux

Je  délire  avec le  mirage.

Je pars avec mon  bossu   pour

la terre  des  cèdres,  pins et chênes

avec destin  à la bassin  du Eufrates.

Moi et mon  chameau  ailé

fatigués et   fragiles de chercher,

nous voyons toi dans les  Montes Libans.

Tu  m ´attendrais  

en ténant  firme  dans les mains

la  coupe débordante  de fertilité.

Nous    cueillons des  fruits et  semeons des  dattes.

 

 

Planète Terre

 

 

tradução para o francês de Jean Paul Mestas

 

 

Tes forêts se transforment

en un désert de cendres.

Tes eaux, chlorure et iode.

Faune marine, oiseaux,

vie qui s'épuise.

Hommes inguérissables.

Fleuves, lacs solitaires,

légendes d'autrefois.

Ton proumon alteré.

Couche d'ozone,

un souffle en spire.

Que pouvouns-nous faire de toi

si tes enfants

sont en trai de mourir de faim?

 

Images

 

 

tradução para o francês de Jean Paul Mestas

 

 

Mes pensées volent jusqu’au pie,

atteignent le point le plus haut.

Elles viennent respirer,

sourire, penser puis rêver

quelques mètres dessous.

Elles rêvent d’um ciel lilas,

épient les étoiles filantes.

Elles n’ont peur de rien,

se sesntent à l’aise et descendent au refuge.

La sentinelle craint

de psser les bornes du songe

Mês pensées volent, dévalent la butte,

avisent chutes d’eau, mers, lacs,

une masure après des arbres,

des hommes qui aiment sur le gazon,

des papillons sur les pétales, des enfants qui sourient, plaisantent,

une volée d’oiseaux qui chantent.

Mes pensées volent jusqu’en bas,

retournent à la plénitude.

 

 

Perdue dans l’Univers

 

 

tradução para o francês de Jean Paul Mestas

Il y a des moments où je me sens

aussi forte que les monts du Tibet.

Je baise tes lèvres et goûte une paix infinie.

Il est des moments où je suis

aussi grande que le divin,

J’aborde ton intimité, plein ciel, parcuours les óceans,

franchis des horizons, saisis ta base veloutée,

forte tels les dieux de l’olympe.

Il est des jours où je me sens

attome dans la galaxie,

tes lèvres restent loin des miennes,

le goût de ta bouche m’échappe,

je n’entends ta voix caressante

ni ne te touche corps sans âme

ni n’ai ton odeur sur mon corps,

tes mains ne me câlinent,

perdue dans l’unviers

je suisle noyau d’un atome.

 

 

Souvenirs

 

 

tradução para o francês de Jean Paul Mestas

 

 

Je me souviens de la Rivièra Française,

des chaussés du Boulevard,

des bars, des cafés,

des rues et des avenues

por où nous sommes passés

Je me souviens de tous lex lieux

où nous avons étê,

des moments où nous avons souri

des mots que nous épelions,

de tex yeux qui me caressaient

au parfum de liqueur de café.

Je me souviens de tes cheveux

reponsés dans mon ombre,

de ta peau qui m’hydratait,

de ta sueur

au goût de fraises des bois.

Je me souviens de ton baiser silencieux

avec l’envie que j’ai besoin de plus.

Je me souviens de toi

assis sur le banc du jardin,

me déshabillant du regard.

 

 

Bercement

 

 

(pour mon père)

tradução para o francês de Jean Paul Mestas

 

 

J’ai perdu mon bijou d’Euphrate

Mon tréson sans or

La Pierre plus précieuse

n’habite pas les relques

je me sens pás as chaleur

je m’ai pu la toucher

je n’ai pás lês yeux pour la voir

Mon désert est froid

le soleil toujours masque

la lumière en décroissoance

l’hiver présent

aux quatre saisons

siècle Durant j’ai cherché

ma loie de l’Euphrate

et je l’ai encore perdue

Pour mon bercement

j’irai à as rencontre

dans une autre dimension

 

Images Miquériniemmes

 

 

tradução para o francês de Jean Paul Mestas

J’aime lê café amer dans la bouche

liquer d’avelie entre lês leires.

Une gorgée se disperse dans l’air

les souvenirs dépoullés

dans lê rondes d l’imaginaire.

Dês secrets tissent dês images poétiques

dans dês transparences sauvages

la rosée dort entre lês feuilles;

L’extase ininterroumpu

en une fraction de seconde

le silence dans um octave au-dessous

répartissant la solitude de l’orgasme

l’aube ardente se rompt

dans lê cathéter opposé d l’hupoténuse.

Les Cléopatre énivrent

les diamants occultes du plaisir.

L’odeier du passé dans l’air

la volonté d’être ce qu’on me fat.

Dês réminiscences anonymes traduisent

les désirs invisibles de l’aurore.

Sans vêtements se livre au conversce

joue à supposer

avec les pitangas matinaux

et découvre les cathédrales de demain

Images miquériníemmes envahissant

l’ardité dês forêts

dévoilent les imrages du ventre

et font mâitre lê peuple du désert

Les illusions assouvissent la fain de l’âme

révèlent les secrets matinaux

et Narcisse se réveille pour la vie.

 

Néon futur

 

 

tradução para o francês de Jean Paul Mestas

Les fleurs poussent dans coeur de la Cathédrale de Sé,

la cathédrale sourit à l’umisson.

La fontaime illumine et accaeille

des homes sans toit et sans fruit.

Les rèves refont la vie qui cueille

des esperances sur lê grand autel dês illusions.

L’évngile est proclamé

par les fidèle sur lê banc de la place.

Dês mineurs fument da craque et sentent cola

em recherche d’un néon futur.

Les dallages plastiques crient au nom de la paix.

Dês emérites vendent dês songes dans les rues.

La Cathédrale de Sé, um polyèdre d’espérances.

Les assiettes vidas poígment dans lê ventre

de la ville affolée

et, dans les grands essaliers, Mário de Adrade

chante dês psaumes et boít dês kyrie.

Faim – crie quelqú um de l’autre cote.

Soif – s’exclame lê mangeur de fer.

Dês millions de personnes à faire naufrage

dans lê silence de la melodie mueete.

Personne n’écoute les fils de la même aurore.

Pause – la ville s’assourdit et devient muette.

La faim et la soif, les coulers vives du pays.

 

 

 

Tortionnaire invisíble

 

 

tradução para o francês de Jean Paul Mestas

La torture est infinie.

Rien sur la table,

des fruits porríssent

devant la solitude laconique.

Hommes à paître le désert

sous le ponts de la ville.

Aucun lilas dans le ciel

rien pour assouvir la soif,

L’homme sans abri,

le froid entre les dents.

La limite de la vie,

un stupre qui pénètaire.

La voix enroueé et muette

implore une assielte de nourriture.

Son tortionnaire est Là,

en couverture de journal,

sur les caisses,

sans assiettes et couverts.

Lui est invisíble devant

des yeux dès hommes

Il est inerte, mais n’est pas inodore,

Il a une odeur forte

et celle ci présente dans tous les coins

dans toutes les directions

d’Est en Ouest, du Nord au Sud.

Il n’y a de fenétres à ouvrir,

la dictature corrode le corps et l’ôme

le tunnel n’a pas la lumière

les rues sont aussi nègres

quant aux couleurs de son ventre

l’horizon, um futur sans habits.

Peu de miettes entre les doigls

la force pour lutter contre le fantasme.

La ville est déserte,

personne pour accueillir

l’animal sans pâture.

São Paulo rêve tranquille

le tortionnaire a des cauchemars.

Em bagatelles la faim s’assouvit,

sans chimères, ferme les yeux

et s’endort.

 

Rosani Abou Adal est née en 1960 à São Paulo.

Elle a suivi les cours de Journalisme Publicité et Propagande à la Faculté de Communication Sociale Cásper Líbero.

Elle édite "Linguagem Viva", journal littérarie mensuel fondé en 1989 avec Adriano Nogueira.

Elle écrit des poèmes, contes, chroniques et histoires

pour enfants. Fecueils de Poésie: Mensagens do Momento (1986); De Corpo e Verde (1992);

Catedral do Silêncio (1996).

lle collabore, par exemple, à Jalons (France)

et The Poet (EUA).

Translator: Jean Paul Mestas

 

Rosani Abou Adal

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