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Marigê Quirino Marchini, uma sonata de poesia

 

 

Rosani Abou Adal

 

 

Marigê Quirino Marchini, poeta, contista, ensaísta, literatura infantil, crítica literária,  tradutora, colaboradora deste jornal, membro do Clube de Poesia e da União Brasileira de Escritores, diplomou-se  em Direito (1959).  Foi da Academia de Letras da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, onde conheceu o companheiro, da vida e das letras, J. B. Sayeg.

“Atrás de um grande homem, há sempre uma grande mulher”. Esta assertiva  pode ser comprovada pelo casal em questão, embora o adjetivo “grande” seja pequeno para definir a autora e a mulher.

Conheci Marigê na sede da União Brasileira de Escritores, na Rua 24 de Maio,  final da década de 80 e, a partir de então, a amizade se consolidou. Logo de início percebi que se tratava de uma pessoa especial e sensível. Na gestão do saudoso Henrique L. Alves, 1990/92, fomos companheiras de diretoria da UBE.

O primeiro trabalho seu publicado no  Linguagem Viva, edição n.º 19, março de 1991, foi o poema Três Visões: I – Dresden 1945, II – Acampamento em Dia de Vento, e III – Vídeo Game 91. “ [...] Pela alma dos museus, / as órbitas do silêncio contemplam / a relíquia das cinzas e dos ossos. [...] “. E eu a contemplar as relíquias da linguagem da poeta.

Oratório de um dia de verão, poesias, foi o primeiro livro que li de sua autoria. Dizem que a primeira impressão é a que fica. Esta premissa é verdadeira porque ela veio para ficar e se perpetuar no tempo como  Cecília Meireles e Henriqueta Lisboa. Imagens marchianas brotaram em meus pensamentos e purificaram minh’alma: “ [...] Em horas de íngreme estio / deserto em mim e no mundo / se choro me faço água  [...] “, Fábula do Temporal,  pag. 42.

Depois fiz a leitura de Balada de Quatro Ventos, seu livro de estréia, e  confirmei a primeira impressão. Muitos escritores abominam o  primeiro livro. Alguns têm  razão em execrá-lo, mas este não é o  caso de Marigê, porque esse livro veio para consagrá-la. A linguagem lapidada marca  o início da carreira: “ [...] debaixo das pálpebras azuis / a incandência das manhas, / e sobre a palma das mãos / nervuras de crisântemos. [...] “, Balada da Bela Adormecida,  pág. 22.

Marigê teve boa acolhida crítica de respeitáveis nomes da nossa literatura como Jamil Almansur Haddad, Maria de Lourdes Teixeira, Manuel Bandeira, Antônio Soares Amora, Helena Silveira, Álvaro Augusto Lopes, entre outros.

Autora dos livros de poemas: Balada dos Quatro Ventos, edição da autora, impresso na Gráfica Saraiva, 1955; Diário de Bordo, 1957; Oratório de um dia de verão, 1982;  Sonetos do imperfeito, 1984; Figuração onírica, 1989; e Infância Querida por Vivian, infantil, com ilustrações da autora, 2001.

 Marigê Quirino Marchini publicou poucos livros, porém o suficiente para destacá-la entre os melhores poetas da sua geração. O que importa é a qualidade, porque  a quantidade se faz elementar diante do seu universo poético. Não usarei adjetivos para qualificá-la, pois os mesmos seriam insuficientes para tal.

Amiga fiel, esposa dedicada, mãe com M maiúsculo e a avó querida do Artur. Marigê trouxe do berço a sua bagagem cultural, do ventre da sua mãe - a poeta Stela Quirino dos Santos. O sangue dos Quirinos e dos Sayegs é pura poesia e se estendeu às filhas Elisa Marchini Sayeg e Lilian Cristina Marchini Sayeg. A poesia navegando de uma geração para outra.

Sayeg conheceu primeiro a poeta Marigê  na Academia de Letras da Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Ele havia lido uma reportagem que saiu sobre ela na Revista Fatos e Fotos e afixou-a no mural da Academia. Surge a afinidade poética e começaram a passear para conversar sobre Literatura. Apenas iniciaram o namoro após o término da Faculdade.

Foi na Livraria Saraiva, em frente da Faculdade, que Sayeg leu todo o livro Diário de Bordo. Ele ficou encantando com a obra e, segundo ele, encantado ficou até hoje.

Ele tem razão. Diário de Bordo é uma sonata de poesia.  Também fiquei encantada e tenho certeza de que esse encanto se eternizará.

Rosani Abou Adal,  jornalista, escritora, membro da Academia de Letras de Campos do Jordão.

 

Rosani Abou Adal

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